sábado, 2 de junho de 2007

Outros dois brasis

O termo Belíndia, criado em 1974 por Edmar Bacha, sintetisa, como poucos, uma visão dicotômica de nosso país: um país rico justaposto a um pobre; um adiantado a um atrasado; um desenvolvido a um subdesenvolvido. Esse modo de entender o Brasil foi proposto, na década de trinta do século passado, por professores franceses que vieram colaborar com a criação da atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, notadamente Roger Bastide, que escreveu Brasil, país de contrastes e Jacques Lambert, que escreveu Os dois brasis.
Uma outra dicotomia, de base temporal, também pode ser evidenciada. Um Brasil contemporâneo e, na falta de um termo mais adequado, um Brasil anterior, ou um Brasil em formação. O Brasil Contemporâneo caracteriza-se por uma população majoritariamente urbana e uma economia predominantemente secundária e terciária - indústria e serviços; o Brasil que o antecede caracterizou-se por uma população rural e uma economia primária - agropecuária e extrativismo vegetal ou mineral. A passagem de um para outro deu-se em poucas décadas, caracterizando uma real revolução na estrutura de nosso país.
Simplificadamente, pode-se considerar que o Brasil contemporâneo inicia na Revolução de 1930. A crise da economia ocidental de 1929 destruiu a base econômica dos antigos detentores do poder político e possibilitou que fossem alijados do governo no ano seguinte. O novo governo adotou uma política de desenvolvimento industrial e de apoio às classes trabalhadoras urbanas. Os poucos capitais privados existentes, sem perspectivas de retorno na agricultura exportadora, também passaram a ser aplicados na nascente indústria. O Brasil passou a ser outro.