domingo, 29 de julho de 2007

Individualismo, um vício brasileiro?

A revista Época nº 480, datada de 30 de julho de 2007, traz uma excelente matéria da autoria de Ricardo Freire, seu colunista quinzenal. Sob o título A nossa parte de culpa no acidente, ele aborda a responsabilidade dos passageiros no que qualifica de inchaço de Congonhas. Ao ler a matéria, lembrei-me de uma manchete da Folha de São Paulo, creio que no domingo 22 de julho de 2007, que dizia mais ou menos: paulistanos querem Congonhas, mas com modificações e que, ao lê-la imediatamente imaginei que ela traduziria melhor o espírito da coisa se fosse: paulistano quer SEU vôo em Congonhas.
Moro em Brasília, mas fui muito e continuo indo com alguma regularidade a São Paulo. Há uns dez anos quase não havia vôos de Brasília para Congonhas; a maioria ia para Cumbica (Guarulhos). Este tornou-se para mim um aeroporto familiar. Há vários anos a situação inverteu-se; quase todos os vôos de Brasília para São Paulo destinam-se a Congonhas. Como isso aconteceu? Leiam a coluna do Ricardo Freire que ele explica melhor do que eu conseguiria.
Recordo-me de uma conversa que tive em um bar do aeroporto de Cumbica há pouco mais de dez anos. Eu e um colega de profissão gaúcho esperávamos nossos aviões para retornarmos a nossas cidades. (Naquele tempo quase todos os vôos de São Paulo para Porto Alegre também partiam de Cumbica e não de Congonhas.) Havíamos participado de um seminário que discutia o projeto de lei de gestão de um dos recusos naturais mais importantes. Lembro-me de comentar com ele que todos os interessados eram favoráveis à descentralização da gestão, mas que quando cada um particularizava como ela deveria ser efetivada, parecia que descentralizar tinha um significado diferente para cada um. Lembro-me de meu colega observar que, na realidade, cada um queria que a descentralização fosse em seu benefício, sem considerar o que seria melhor para a coletividade. Participei ativamente durante mais de três anos do processo de elaboração dessa lei e me marcou profundamente a incapacidade dos envovidos pensarem em termos do bem comum.
O brasileiro é incapaz de colocar o interesse pessoal em segundo plano e priorizar o coletivo? A famosa Lei de Gerson e o ditado farinha pouca meu pirão primeiro traduzem a realidade dos brasileiros? Seria a individualidade um vício brasileiro? No aguardo de comentários.

domingo, 22 de julho de 2007

Três obras seminais para se entender o Brasil - 2

Em comentário à postagem original, André Leme Lopes, manifesta sua crença de que nenhuma obra escrita na década de 1930 consiga explicar o mundo de hoje e opina que a falta de novas obras abrangentes sobre o país fazem muito da fama desses clássicos.
Esse comentário faz-me antecipar algumas considerações que pretendia fazer futuramente, na medida em que fosse desenvolvendo meu pensamento. Sou da opinião de que, nos últimos tempos, há falta de obras abrangentes sobre o nosso país e de que os grandes escritores da atualidade não têm uma obra síntese de seu pensamento, que se destaque das demais, daí o realce de obras publicadas há mais tempo. (Voltarei ao assunto).
André qualifica as três obras por mim mencionadas como clássicos. O que torna uma obra um clássico? O grande escritor italiano Italo Calvino em sua obra Por que ler os clássicos apresenta algumas propostas de definição das quais selecionei algumas:
Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.
Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia.
Os clássicos são livros que, quando mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.
É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível.
Concluindo, se as três obras são realmente clássicos, mantêm seu interesse vivo como há setenta anos.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Intérpretes do Brasil - 2

Intérpretes do Brasil é o título de uma coleção de doze livros de dez autores que apresentam uma visão crítica do Brasil, patrocinada pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Ministério da Cultura, no âmbito das comemorações dos 500 anos de descobrimento do nosso país, e publicada pela editora Nova Aguilar em três volumes, em papel bíblia. A seleção dos livros foi feita pelo professor Silviano Santiago, coordenador do projeto e autor do texto introdutório da coleção. Cada livro é antecedido por um estudo introdutório de autoria de alguns dos maiores nomes da historiografia atual.
Outra obra, possivelmente de maior interesse para o leitor não especializado que queira uma visão abrangente de nosso país, é a coletânea de resenhas de 36 livros de 28 autores intitulada Introdução ao Brasil: um banquete nos trópicos, organizada pelo jornalista Lourenço Dantas Mota e publicada , em dois volumes, pela editora do SENAC de São Paulo. As resenhas são igualmente da autoria de 28 dos maiores nomes da historiografia atual.

domingo, 15 de julho de 2007

Três obras seminais para se entender o Brasil

Seguindo os passos descritos em minha postagem de 27 de maio, três obras se destacam no conjunto das citadas:
Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre;
Formação do Brasil contemporâneo: colônia, de Caio Prado Jr. e
Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.
Foram publicadas há pouco mais de setenta anos; as duas primeiras em 1934 e a terceira em 1936. São consideradas seminais porque os estudiosos reconhecem nelas uma originalidade que veio a influenciar todos os estudos posteriores sobre o Brasil. Não podem ser ignoradas, quer se concorde com ou se discorde dos pontos-de-vista de seus autores.
Casa-grande & senzala é o primeiro tomo do que Gilberto Freyre intitulou Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil e tem por subtítulo formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. O segundo tomo, Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano, foi publicado logo em seguida, em 1936. O terceiro, Ordem e progresso: processo de desintegração das sociedade patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o regime de trabalho livre: aspectos de quase meio século de transição do trabalho escravo para o trabalho livre e da monarquia para a república, só foi publicado mais de 20 anos depois, em 1959.
Caio Prado não deu seguimento à sua Formação do Brasil contemporâneo, apesar de ser esta sua intenção, conforme expressa na introdução da mesma.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Sobre o nome do blog

Em tempos de apagão aéreo, o nome do blog pode causar confusão e levar o potencial visitante a considerar que se trata de um blog sobre os problemas atuais do transporte aéreo nacional. Não é este o seu assunto. Neste blog pretendo abordar os motivos que impedem nosso país de se desenvolver e se tornar uma sociedade rica e, principalmente, justa e com igualdade de oportunidade para seus integrantes.
O nome do blog decorre de uma imagem de nosso país como um grande Jumbo parado na cabeceira de uma pista de decolagem, esquentando os motores e se preparando para rolar pela pista e decolar rumo a seu destino, o que é sempre adiado. Seu nome poderia ser: Por que o Brasil não levanta?, considerando que o Hino Nacional considera nosso país ... deitado eternamente em berço esplêndido... Não adotei esta alternativa porque, no passado, houve momentos em que se teve a percepção de que nosso país se levantava, como expressa a letra da canção Subdesenvolvido de Carlos Lyra: ...mas um dia o gigante acordou e dele um anão se levantou, era um país subdesenvolvido...Estava-se no início da década de 1960, após os anos desenvolvimentistas de Jucelino. Assim mesmo, a percepção era de nosso país como um anão subdesenvolvido.