domingo, 14 de outubro de 2007

Ainda Intérpretes do Brasil

A revista Entre Livros publicou recentemente em sua Biblioteca Entre Livros - números especiais com textos fundamentais para ler e guardar - um intitulado Retratos do Brasil com artigos sobre pensadores que produziram as principais obras para explicar como se forjou o país de hoje. Nas palavras do editoral: o propósito deste especial é oferecer ao leitor, seja de qual for a área, a possibilidade de conhecer, ainda que de modo panorâmico, o pensamento de cada um destes que são considerados hoje os grandes "intérpretes" do Brasil. Foram escolhidos 12 autores após o cruzamento de vários currículos das áreas de história, sociologia, antropologia, economia e literatura.
Além de um artigo sobre cada um dos autores, a revista contém:
- um interessantíssimo artigo de autoria da Profa. Miriam Dolhnikoff sobre o trabalho dos intelectuais que, no século XIX, buscaram compreender o Brasil, com ênfase sobre os temas que mais os ocuparam - identidade nacional, escravidão e cidanania;
-um artigo sobre a produção dos brasilianistas, com o interessante título de A interpretação multifacetada de quem vê o Brasil de fora; e
- um artigo introdutório intitulado O paradoxo como método para entender o Brasil.
Os 12 autores estudados são:
Gilberto Freyre: 1900/1987;
Sérgio Buarque de Holanda: 1902/1982;
Caio Prado Júnior: 1907/1990;
Josué de Castro: 1908/1973;
Antônio Cândido: 1918/;
Celso Furtado: 1920/2004;
Raymundo Faoro: 1925/2003;
Florestan Fernandes: 1920/1995;
Milton Santos: 1926/2001;
Darcy Rbeiro: 1922/1997;
Guerreiro Ramos: 1915/1982;
Abdias Nascimento: 1914/.
Cabe ressaltar que apenas dois dos autores escolhidos estão vivos e ambos com mais de 85 anos.
Entretanto, a revista inova incluindo autores raramente citados em trabalhos do gênero: o médico sanitarista e geógrafo Josué de Castro, o geógrafo Milton Santos, o sociólogo Guerreiro Ramos e o economista Abdias Nascimento, os dois últimos com uma importantíssima contribuição para a valorização do negro na sociedade nacional.

Intérpretes do Brasil no Século XX - Ciências Sociais

A revista Ciência Hoje, da Associação Brasileira para o Progresso da Ciência, publicou em seu número de abril de 2000 interessante matéria da autoria do Prof. Simon Schwartzman. Nela, o autor relata os resultados de uma enquete, sobre os autores brasileiros mais importantes do século XX, que fez com cientistas sociais que estivessem em atividade. O texto do artigo está disponível na internet e o link para sua leitura encontra-se ao lado.
O autor da enquete solicitou a cada participante que indicasse as obras que, no seu entender, eram as mais importantes e as mais influentes, em um número máximo de cinco para cada categoria. Responderam à enquete 49 cientistas - dez sociólogos, 13 cientistas políticos, 14 economistas, seis antropólogos e os demais historiadores ou da área de direito, filosofia ou administração.
Os autores citados, em ordem de importância, foram:
Gilberto Freyre: 1900/1987;
Celso Furtado: 1920/2004;
Raymundo Faoro: 1925/2003;
Ségio Buarque de Holanda: 1902/1982;
Vitor Nunes Leal: 1914/1986;
Florestan Fernandes: 1920/1995;
Caio Prado Júnior: 1907/1990;
Oliveira Viana: 1885/1951;
Euclides da Cunha: 1866/1909
Além desses, tiveram obras citadas pelo menos duas vezes os autores:
Fernando de Azevedo: 1984/1974;
Fernando Henrique Cardoso: 1931/;
José Murilo de Carvalho: 1939/;
Eduardo Viveiros de Castro: 1951/;
Roberto da Matta: 1936/;
Ignácio Rangel: 1908/1994;
Wanderley Guilherme dos Santos: 1935/;
Simon Schwartzman: 1939/;
Mário Henrique Simonsen: 1935/1997;
Roberto Simonsen: 1889/1948;
Antônio Cândido de Mello e Souza: 1918/
Maria da Conceição Tavares: 1930/.
Cabe notar que, entre os mais importantes, nenhum autor vivo foi citado e, entre os demais, os que estão vivos, com uma única exceção, têm mais de 65 anos.
Comentarei em uma postagem futura o fato de praticamente não serem citados autores mais moços em todas as listas de Intérpretes do Brasil

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

15 Intérpretes do Brasil

Doença, viagem e outros afazeres monopolizaram minha atenção nos últimos meses, impedindo-me de escrever para o blog. Pretendo ser mais assíduo de agora em diante. Retomo uma postagem rascunhada há mais de dois meses.
Baseado nas referências mencionadas em minhas postagens de 27 de maio e 17 de julho, identifiquei 15 escritores que, por serem muito citados, considerei importantes intérpretes do Brasil. São eles, em ordem de número de citações:
-Sérgio Buarque de Holanda: 1902/1982;
-Gilberto Freyre: 1900/1987;
-Caio Prado Jr: 1907/1990;
-Joaquim Nabuco: 1849/1910;
-Forestan Fernandes: 1920/1995;
-José Murilo de Carvalho: 1939/;
-Euclides da Cunha: 1866/1909;
-Raymundo Faoro: 1925/2003;
-Oliveira Vianna: 1885/1951;
-Capistrano de Abreu: 1853/1927;
-Vítor Nunes Leal: 1914/1986;
-Antônio Cândido: 1918/;
-Evaldo Cabral de Melo: 1936/;
-Oliveira Lima: 1867/1928
-Charles Ralph Boxer: 1904/2000.
Chamo a atenção do leitor para o fato de apenas três estarem vivos e de somente um ser estrangeiro.

domingo, 29 de julho de 2007

Individualismo, um vício brasileiro?

A revista Época nº 480, datada de 30 de julho de 2007, traz uma excelente matéria da autoria de Ricardo Freire, seu colunista quinzenal. Sob o título A nossa parte de culpa no acidente, ele aborda a responsabilidade dos passageiros no que qualifica de inchaço de Congonhas. Ao ler a matéria, lembrei-me de uma manchete da Folha de São Paulo, creio que no domingo 22 de julho de 2007, que dizia mais ou menos: paulistanos querem Congonhas, mas com modificações e que, ao lê-la imediatamente imaginei que ela traduziria melhor o espírito da coisa se fosse: paulistano quer SEU vôo em Congonhas.
Moro em Brasília, mas fui muito e continuo indo com alguma regularidade a São Paulo. Há uns dez anos quase não havia vôos de Brasília para Congonhas; a maioria ia para Cumbica (Guarulhos). Este tornou-se para mim um aeroporto familiar. Há vários anos a situação inverteu-se; quase todos os vôos de Brasília para São Paulo destinam-se a Congonhas. Como isso aconteceu? Leiam a coluna do Ricardo Freire que ele explica melhor do que eu conseguiria.
Recordo-me de uma conversa que tive em um bar do aeroporto de Cumbica há pouco mais de dez anos. Eu e um colega de profissão gaúcho esperávamos nossos aviões para retornarmos a nossas cidades. (Naquele tempo quase todos os vôos de São Paulo para Porto Alegre também partiam de Cumbica e não de Congonhas.) Havíamos participado de um seminário que discutia o projeto de lei de gestão de um dos recusos naturais mais importantes. Lembro-me de comentar com ele que todos os interessados eram favoráveis à descentralização da gestão, mas que quando cada um particularizava como ela deveria ser efetivada, parecia que descentralizar tinha um significado diferente para cada um. Lembro-me de meu colega observar que, na realidade, cada um queria que a descentralização fosse em seu benefício, sem considerar o que seria melhor para a coletividade. Participei ativamente durante mais de três anos do processo de elaboração dessa lei e me marcou profundamente a incapacidade dos envovidos pensarem em termos do bem comum.
O brasileiro é incapaz de colocar o interesse pessoal em segundo plano e priorizar o coletivo? A famosa Lei de Gerson e o ditado farinha pouca meu pirão primeiro traduzem a realidade dos brasileiros? Seria a individualidade um vício brasileiro? No aguardo de comentários.

domingo, 22 de julho de 2007

Três obras seminais para se entender o Brasil - 2

Em comentário à postagem original, André Leme Lopes, manifesta sua crença de que nenhuma obra escrita na década de 1930 consiga explicar o mundo de hoje e opina que a falta de novas obras abrangentes sobre o país fazem muito da fama desses clássicos.
Esse comentário faz-me antecipar algumas considerações que pretendia fazer futuramente, na medida em que fosse desenvolvendo meu pensamento. Sou da opinião de que, nos últimos tempos, há falta de obras abrangentes sobre o nosso país e de que os grandes escritores da atualidade não têm uma obra síntese de seu pensamento, que se destaque das demais, daí o realce de obras publicadas há mais tempo. (Voltarei ao assunto).
André qualifica as três obras por mim mencionadas como clássicos. O que torna uma obra um clássico? O grande escritor italiano Italo Calvino em sua obra Por que ler os clássicos apresenta algumas propostas de definição das quais selecionei algumas:
Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.
Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia.
Os clássicos são livros que, quando mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.
É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível.
Concluindo, se as três obras são realmente clássicos, mantêm seu interesse vivo como há setenta anos.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Intérpretes do Brasil - 2

Intérpretes do Brasil é o título de uma coleção de doze livros de dez autores que apresentam uma visão crítica do Brasil, patrocinada pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Ministério da Cultura, no âmbito das comemorações dos 500 anos de descobrimento do nosso país, e publicada pela editora Nova Aguilar em três volumes, em papel bíblia. A seleção dos livros foi feita pelo professor Silviano Santiago, coordenador do projeto e autor do texto introdutório da coleção. Cada livro é antecedido por um estudo introdutório de autoria de alguns dos maiores nomes da historiografia atual.
Outra obra, possivelmente de maior interesse para o leitor não especializado que queira uma visão abrangente de nosso país, é a coletânea de resenhas de 36 livros de 28 autores intitulada Introdução ao Brasil: um banquete nos trópicos, organizada pelo jornalista Lourenço Dantas Mota e publicada , em dois volumes, pela editora do SENAC de São Paulo. As resenhas são igualmente da autoria de 28 dos maiores nomes da historiografia atual.

domingo, 15 de julho de 2007

Três obras seminais para se entender o Brasil

Seguindo os passos descritos em minha postagem de 27 de maio, três obras se destacam no conjunto das citadas:
Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre;
Formação do Brasil contemporâneo: colônia, de Caio Prado Jr. e
Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda.
Foram publicadas há pouco mais de setenta anos; as duas primeiras em 1934 e a terceira em 1936. São consideradas seminais porque os estudiosos reconhecem nelas uma originalidade que veio a influenciar todos os estudos posteriores sobre o Brasil. Não podem ser ignoradas, quer se concorde com ou se discorde dos pontos-de-vista de seus autores.
Casa-grande & senzala é o primeiro tomo do que Gilberto Freyre intitulou Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil e tem por subtítulo formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. O segundo tomo, Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do urbano, foi publicado logo em seguida, em 1936. O terceiro, Ordem e progresso: processo de desintegração das sociedade patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o regime de trabalho livre: aspectos de quase meio século de transição do trabalho escravo para o trabalho livre e da monarquia para a república, só foi publicado mais de 20 anos depois, em 1959.
Caio Prado não deu seguimento à sua Formação do Brasil contemporâneo, apesar de ser esta sua intenção, conforme expressa na introdução da mesma.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Sobre o nome do blog

Em tempos de apagão aéreo, o nome do blog pode causar confusão e levar o potencial visitante a considerar que se trata de um blog sobre os problemas atuais do transporte aéreo nacional. Não é este o seu assunto. Neste blog pretendo abordar os motivos que impedem nosso país de se desenvolver e se tornar uma sociedade rica e, principalmente, justa e com igualdade de oportunidade para seus integrantes.
O nome do blog decorre de uma imagem de nosso país como um grande Jumbo parado na cabeceira de uma pista de decolagem, esquentando os motores e se preparando para rolar pela pista e decolar rumo a seu destino, o que é sempre adiado. Seu nome poderia ser: Por que o Brasil não levanta?, considerando que o Hino Nacional considera nosso país ... deitado eternamente em berço esplêndido... Não adotei esta alternativa porque, no passado, houve momentos em que se teve a percepção de que nosso país se levantava, como expressa a letra da canção Subdesenvolvido de Carlos Lyra: ...mas um dia o gigante acordou e dele um anão se levantou, era um país subdesenvolvido...Estava-se no início da década de 1960, após os anos desenvolvimentistas de Jucelino. Assim mesmo, a percepção era de nosso país como um anão subdesenvolvido.

sábado, 2 de junho de 2007

Outros dois brasis

O termo Belíndia, criado em 1974 por Edmar Bacha, sintetisa, como poucos, uma visão dicotômica de nosso país: um país rico justaposto a um pobre; um adiantado a um atrasado; um desenvolvido a um subdesenvolvido. Esse modo de entender o Brasil foi proposto, na década de trinta do século passado, por professores franceses que vieram colaborar com a criação da atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, notadamente Roger Bastide, que escreveu Brasil, país de contrastes e Jacques Lambert, que escreveu Os dois brasis.
Uma outra dicotomia, de base temporal, também pode ser evidenciada. Um Brasil contemporâneo e, na falta de um termo mais adequado, um Brasil anterior, ou um Brasil em formação. O Brasil Contemporâneo caracteriza-se por uma população majoritariamente urbana e uma economia predominantemente secundária e terciária - indústria e serviços; o Brasil que o antecede caracterizou-se por uma população rural e uma economia primária - agropecuária e extrativismo vegetal ou mineral. A passagem de um para outro deu-se em poucas décadas, caracterizando uma real revolução na estrutura de nosso país.
Simplificadamente, pode-se considerar que o Brasil contemporâneo inicia na Revolução de 1930. A crise da economia ocidental de 1929 destruiu a base econômica dos antigos detentores do poder político e possibilitou que fossem alijados do governo no ano seguinte. O novo governo adotou uma política de desenvolvimento industrial e de apoio às classes trabalhadoras urbanas. Os poucos capitais privados existentes, sem perspectivas de retorno na agricultura exportadora, também passaram a ser aplicados na nascente indústria. O Brasil passou a ser outro.

domingo, 27 de maio de 2007

Intérpretes do Brasil

Como conhecer e compreender nosso país? Uma possibilidade é por intermédio da obra dos pensadores considerados Intérpretes do Brasil.
Como identificá-los? Consultando obras relacionadas com o tema, como as de historiografia, ou mediante matérias publicadas na imprensa, especializada ou não. Estas em geral têm títulos como: "... livros que explicam o Brasil", "... livros para conhecer o Brasil", "... livros que explicam o Brasil" e compreendem uma lista formulada e comentada por um estudioso renomado de assuntos brasileiros, complementada por uma breve biografia sua e, às vezes, uma entrevista.
A mais recente dessas matérias, de meu conhecimento, saiu no número 10 da revista Entre Livros, datado de fevereiro de 2006. Em 2000, por ocasião dos 500 anos da Descoberta, a Folha de São Paulo publicou, sob o título geral Brasil 500 Anos, diversas "entrevistas, reportagens, artigos, análises e cadernos especiais" que "refazem sob diversos ângulos a história dos 500 anos do Brasil, da época do descobrimento do País pelos portugueses até os dias de hoje". Uma das matérias especiais foi um "Guia de leitura da história brasileira", com subtítulo: "sete historiadores sugerem e comentam livros essenciais para conhecer o passado do País". As matérias completas e não somente o guia, estão disponíveis na internet no link ao lado. Trata-se de material de grande interesse para quem estiver interessado em aprofundar seu conhecimento do País.

Virtudes dos brasileiros

Domingo de manhã, em uma banca de jornais, fregueses comentam as matérias de capa das revistas semanais, principalmente a da Veja sobre os benefícios que o Presidente do Senado Federal usufruiria de uma empreiteira.
Observa um: "Os brasileiros não merecem os políticos que têm; é um povo com tantas virtudes...", no que é imediatemente aparteado: "Uma virtude dos brasileiros certamente é a paciência". Outro acrescenta: "Em outros países, por muito menos, o povo demonstra sua impaciência" e lembra os recentes distúrbios em Buenos Aires contra os atrasos dos trens metropolitanos.
Para você, leitor, a paciência é uma virtude ou um vício dos brasileiros? Quais as outras virtudes e vícios brasileiros?
Voltarei ao assunto.

domingo, 20 de maio de 2007

Por que o Brasil não decola?

Em fins do século XVIII e princípios do XIX, Brasil e Estados Unidos tinham população e economia, mais ou menos, do mesmo tamanho. Atualmente, ...
No início da segunda metade do século XX, a Coréia era um país pobre, dividido e devastado pela guerra, enquanto o Brasil estava em pleno processo de desenvolvimento. Atualmente, a porção sul da dividida Coréia é relativamente muito mais rica.
No último quarto de século, outros países asiáticos seguem o exemplo sul-coreano, enquanto nosso país parece haver perdido o rumo do desenvolvimento.
Por que o Brasil não decola? Para responder a essa pergunta é preciso conhecer e compreender o nosso país.